terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Saudosismo Perigoso


Ter medo de mudanças e transformações é algo normal, até certo ponto. Afinal, quem nunca ficou com aquele friozinho na barriga no primeiro dia de aula? O problema é quando esse medo te impede de evoluir como individuo social e como ser humano. E o problema se torna ainda maior quando, devido ao seu medo de evoluir, você quer impedir que o mundo inteiro estagne no mesmo estágio em que você.

É comum ouvir de pessoas mais velhas, como o "mundo de antigamente" era bom, como tudo era melhor. E é ainda mais comum atualmente ver jovens com este tipo de pensamento. Toda época teve suas glórias e seus infortúnios, mas vivemos o agora, e para os grupos historicamente oprimidos as mudanças são muito bem-vindas, pois simbolizam a esperança de um futuro melhor que o hoje.

Consigo compreender o pensamento daqueles que desejam o retrocesso, desejam que o mundo regrida. Afinal, deve ser muito difícil para aqueles que sempre estiveram em posição de favorecidos pela segregação e opressão de outros, ver-se agora em posição de igualdade e não de superioridade. Deve ser muito "revoltante", não é mesmo?

O perigo é que este tipo de pensamento vem ganhando cada vez mais espaço na mídia e na política. Ser politicamente incorreto é considerado legal e ser "acusado" de ser politicamente correto é quase um xingamento. Quem não ri e não concorda com as piadinhas preconceituosas, com as propagandas misóginas e elitistas são os chatos, são as mulheres "mal comidas", são pessoas que não tem humor e que procuram "pelo em ovo". Será?

Partidos de extrema direita estão renascendo das cinzas da segunda guerra mundial e conquistando admiradores, saudosistas daqueles tempos onde tudo era mais fácil e os oprimidos sabiam seu lugar. Lembrando que partidos de extrema direita possuem ideologias como autoritarismo, anticomunismo, anti-imigração, fascismo (pessoas supostamente superiores têm o direito de dominar a sociedade enquanto se purga elementos supostamente inferiores), favorecendo uma sociedade elitista.

 
O partido ARENA, aquele mesmo responsável pela ditadura militar, que levou a tortura, morte e exílio de milhares está de volta, com partidários como Jair Bolsonaro, famoso por frases como "O objetivo é fazer o cara abrir a boca. O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico" (sobre a prática da tortura) e "O próximo passo será a adoção de crianças por casais homossexuais e a legalização da pedofilia" (comentando a decisão do Supremo que reconheceu a união estável entre homossexuais).

O movimento da extrema direita aqui no Brasil ainda está só no começo, engatinhando. Mas nos países europeus está se fortalecendo e criando muita preocupação entre organizações que lutam pelos direitos das minorias. Partidos como a União Democrática do Centro (UDC) da Suíça e o Partido Nacional Democrata (PND) da Alemanha vem causando repulsa entre os engajados em lutas sociais e conquistando simpatizantes entre os reacionários.

A UDC, fundada em 1971, se tornou em 2003 o partido a obter a maior votação já alcançada em um país helvético e com maior número de cadeiras no senado. O partido rejeita qualquer possibilidade de aumento de verbas dedicadas à educação e à previdência social, é extremista quando se trata de políticas anti-imigração e crítica agressivamente o Islã, visando a proibição da imigração de muçulmanos para o país. O partido é constantemente acusado de xenofobia.

O PND, fundado em 1964, é um partido declaradamente neonazista. O governo alemão tenta, já a algum tempo, considerar este partido ilegal por incentivar a violência racial, mas sem sucesso, pois por ter “apenas” alguns milhares de associados, é difícil configurar como crime de ameaça à democracia. Fazem parte dos associados deste partido os skinheads. O presidente do partido recentemente fez declarações como “Vemos o perigo crescente de que a base biológica de nossa gente se reduzirá devido ao fato haver uma mistura (interracial) cada vez maior.”

Como feminista e cidadã, me preocupo profundamente que o saudosismo crie cada vez mais monstros. Pessoas protestando e lutando para retroceder o mundo a uma época que nunca existiu, mas que vive no imaginário de milhares de reacionários e conservadores, é triste e muito assustador.

Mas sou uma eterna otimista, sei (e tenho esperança) que para cada um desses reacionários extremistas existem 10 pessoas lutando por igualdade, protestando por um mundo mais justo. E, mesmo assustada e triste com estes preocupantes rumos da política, me sinto na obrigação de revidar contra o preconceito, muito mais forte e determinada. O futuro é agora e o passado nunca volta.