Ter medo de mudanças e transformações é algo normal, até certo ponto. Afinal, quem nunca ficou com aquele friozinho na barriga no primeiro dia de aula? O problema é quando esse medo te impede de evoluir como individuo social e como ser humano. E o problema se torna ainda maior quando, devido ao seu medo de evoluir, você quer impedir que o mundo inteiro estagne no mesmo estágio em que você.
É
comum ouvir de pessoas mais velhas, como o "mundo de antigamente" era
bom, como tudo era melhor. E é ainda mais comum atualmente ver jovens com este
tipo de pensamento. Toda época teve suas glórias e seus infortúnios, mas
vivemos o agora, e para os grupos historicamente oprimidos as mudanças são
muito bem-vindas, pois simbolizam a esperança de um futuro melhor que o hoje.
Consigo
compreender o pensamento daqueles que desejam o retrocesso, desejam que o mundo
regrida. Afinal, deve ser muito difícil para aqueles que sempre estiveram em
posição de favorecidos pela segregação e opressão de outros, ver-se agora em
posição de igualdade e não de superioridade. Deve ser muito
"revoltante", não é mesmo?
O
perigo é que este tipo de pensamento vem ganhando cada vez mais espaço na mídia
e na política. Ser politicamente incorreto é considerado legal e ser
"acusado" de ser politicamente correto é quase um xingamento. Quem
não ri e não concorda com as piadinhas preconceituosas, com as propagandas
misóginas e elitistas são os chatos, são as mulheres "mal comidas",
são pessoas que não tem humor e que procuram "pelo em ovo". Será?
Partidos
de extrema direita estão renascendo das cinzas da segunda guerra mundial e
conquistando admiradores, saudosistas daqueles tempos onde tudo era mais fácil
e os oprimidos sabiam seu lugar. Lembrando que partidos de extrema direita
possuem ideologias como autoritarismo, anticomunismo, anti-imigração, fascismo
(pessoas supostamente superiores têm o direito de dominar a sociedade enquanto
se purga elementos supostamente inferiores), favorecendo uma sociedade elitista.
O
partido ARENA, aquele mesmo responsável pela ditadura militar, que levou a
tortura, morte e exílio de milhares está de volta, com partidários como Jair
Bolsonaro, famoso por frases como "O objetivo é fazer o cara abrir a boca.
O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico" (sobre a prática da
tortura) e "O próximo passo será a adoção de crianças por casais
homossexuais e a legalização da pedofilia" (comentando a decisão do
Supremo que reconheceu a união estável entre homossexuais).
O
movimento da extrema direita aqui no Brasil ainda está só no começo,
engatinhando. Mas nos países europeus está se fortalecendo e criando muita
preocupação entre organizações que lutam pelos direitos das minorias. Partidos
como a União Democrática do Centro (UDC) da Suíça e o Partido Nacional
Democrata (PND) da Alemanha vem causando repulsa entre os engajados em lutas
sociais e conquistando simpatizantes entre os reacionários.
A
UDC, fundada em 1971, se tornou em 2003 o partido a obter a maior votação já
alcançada em um país helvético e com maior número de cadeiras no senado. O
partido rejeita qualquer possibilidade de aumento de verbas dedicadas à educação
e à previdência social, é extremista quando se trata de políticas
anti-imigração e crítica agressivamente o Islã, visando a proibição da
imigração de muçulmanos para o país. O partido é constantemente acusado de
xenofobia.
O
PND, fundado em 1964, é um partido declaradamente neonazista. O governo alemão
tenta, já a algum tempo, considerar este partido ilegal por incentivar a
violência racial, mas sem sucesso, pois por ter “apenas” alguns milhares de
associados, é difícil configurar como crime de ameaça à democracia. Fazem parte
dos associados deste partido os skinheads. O presidente do partido recentemente
fez declarações como “Vemos o perigo crescente de que a base biológica de nossa
gente se reduzirá devido ao fato haver uma mistura (interracial) cada vez maior.”
Como
feminista e cidadã, me preocupo profundamente que o saudosismo crie cada vez
mais monstros. Pessoas protestando e lutando para retroceder o mundo a uma
época que nunca existiu, mas que vive no imaginário de milhares de reacionários
e conservadores, é triste e muito assustador.
Mas
sou uma eterna otimista, sei (e tenho esperança) que para cada um desses
reacionários extremistas existem 10 pessoas lutando por igualdade, protestando
por um mundo mais justo. E, mesmo assustada e triste com estes preocupantes
rumos da política, me sinto na obrigação de revidar contra o preconceito, muito
mais forte e determinada. O futuro é agora e o passado nunca volta.