sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Thinspiration

"Chame de doença
Chame de loucura
Chame de obsessão
Eu não ligo,
Eu ainda chamo de perfeição"
Exemplo de imagem presente em sites pro-ana e pro-mia.
Com as campanhas pro-ana (a favor da anorexia) e pro-mia (a favor da bulimia) cada vez mais criticadas e condenadas, uma nova campanha chamada thinspiration (combinação das palavras magra + inspiração) está dominando as redes sociais. A louca busca pelo corpo ideal mata milhares de jovens mulheres todos os anos e enquanto isso os representantes governamentais continuam fechando os olhos para o problema.

Blogs e tumblrs de thinspiration são muito parecidos com sites pro-ana e pro-mia a mensagem que passam é praticamente a mesma. Faça tudo o que for preciso, mas fique magra. A diferença entre os sites pro-ana e pro-mia e os sites de thinspiration, é que o último trabalha principalmente através de imagens. 

Imagens essas geralmente de mulheres magérrimas, tão magras que os ossos da clavícula e os ossos do quadris ficam salientes. Essas mulheres são chamadas de thinspo, o ideal da magreza e da beleza feminina. 
Alguns sites e blogs de thinspiration se dizem claramente contra anorexia e bulimia, mas incentivam o mesmo comportamento. Pelas mensagens vistas nesses sites, é possível ver que a comida e a alimentação é enxergada de forma distorcida. Se você comer um doce, por exemplo, isso é considerado horrível. Como a imagem abaixo representa. 


"Você quer ossos do quadril ou pizza?
...uma espaço entre suas coxas ou bolo?
... clavículas ou doces?
...uma barriga lisa ou refrigerante?
Não desista da perfeição."
Exemplo de imagem presente em sites de thinspiration.
 Nem preciso dizer como isso é horrível, né?
Uma relação completamente destrutiva com seu corpo e sua alimentação.

Apesar de sermos animais supostamente inteligentes, temos uma mania incrível de reprimir a todo custo as funções corporais normais, principalmente às funções corporais femininas. 
O sexo, algo completamente normal e instintivo para o corpo foi e ainda é um tabu para muitos, sendo que o desejo sexual deve ser reprimido sempre. Tivemos programas de televisão ridicularizando e coibindo a amamentação em publico, que é uma das funções corporais mais primitivas e instintivas da mulher que se torna mãe. A menstruação completamente normal para todas as mulheres, é considerado algo sujo, nojento, que até evitamos comentar e falar o nome. 
E agora para completar a opressão feminina, a moda é coibir a alimentação. Tudo que você come ou bebe é meticulosamente analisado por revistas, programas de televisão, familiares e amigos. Reprimir e condenar, o ato natural de se alimentar, é a bola da vez, para o sistema continuar com seu firme controle da sociedade e, principalmente, da parcela feminina da população.


Mulheres são atacadas constantemente por uma mídia que passa a mensagem do ideal feminino, a mulher perfeita com o corpo perfeito e a personalidade perfeita. Com isso, temos atualmente alarmantes dados que insistimos em continuar ignorar. 
- É estimado que 8 milhões de americanos sofram de distúrbios alimentares como anorexia e bulimia, sendo que desses, 7 milhões são mulheres.
- Anorexia nervosa tem a mais alta taxa de mortalidade entre as doenças psiquiátricas  inclusive maior que as taxas de depressão grave.
- Apenas 1 em cada 10 pessoas com anorexia recebem tratamento.
- Sem tratamento, cerca de 20% (1,6 milhões de pessoas, somente nos EUA) das pessoas que apresentam distúrbios alimentares graves, morrem.
- É a terceira doença cronica mais comum entre adolescentes.
- 95% das pessoas que apresentam quadros clínicos de anorexia e bulimia têm entre 12 e 25 anos. 


O capitalismo se tornou um tornado imenso e sem controle, que destrói tudo em seu caminho sem pensar nas consequências. A mídia não se importa de matar milhares de jovens todos os anos, pois a indústria de dietas fatura 40 bilhões de dólares por ano! 

Para os interessados o dinheiro justifica os meios. Justifica ensinar para meninas de 2, 3 anos de idade que elas são princesinhas perfeitinhas e magrinhas, e que devem continuar assim. Justifica usar o photoshop em uma modelo já magra para tornar ela magérrima. Justifica usar gordxs como piada, e representa-los sempre como os ridículos, sem força de vontade e comilões viciados em junk food. 

E enquanto isso os representantes governamentais que poderiam fazer algo à respeito, como implantar leis mais rígidas para a industria de beleza e dietas e efetuar um controle sério do que é veiculado nas mídias, simplesmente fecham os olhos e enchem o bolso de dinheiro.

Enquanto isso campanhas como a thinspiration ganham força e seduzem milhares de jovens por representar o ideal que é imposto a eles. 

* Dados retirados das seguintes fontes: http://www.mirasol.net/eating-disorders/information/eating-disorder-statistics.php e http://www.state.sc.us/dmh/anorexia/statistics.htm

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Homem Feminino


“Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino...”
Música Masculino e Feminino, de Pepeu Gomes

O abismo causado pela separação de gêneros começa desde a infância. Quando ainda estamos na barriga de nossas mães. Logo que os pais e a família descobrem o sexo biológico da criança, o enxoval começa a ser preparado. Tudo azul e masculinizado para meninos, carrinhos e bonecos de ação, calças e shorts, jamais vestidos e bonecas, muito menos coisas de cores e estampas “femininas” como rosa, lilás, flores, etc. Para as meninas é um pouco menos restritivo, elas até podem usar azul e calças, como os meninos, mas é incentivada a ser o mais girlie possível, com lacinhos, vestidinhos, maquiagem e bonequinhas.

Enquanto para uma mulher é até certo ponto considerado normal, utilizar produtos do mundo masculino, o oposto é visto com maldade e extremamente criticado. Afinal não há nada demais em uma mulher usar um terninho, por exemplo, mas um homem usar um vestido seria o fim do mundo. Certo?

Há um estigma de que o homem com características femininas não é homem “suficiente”. Produtos femininos estão sendo “masculinizados” para atrair o mercado consumidor masculino. Porque o “homem de verdade” não usa produtos femininos. Isso mostra o quanto nossa sociedade está distorcida por padrões e estereótipos que não condizem com a realidade do ser humano.

Porque é normal uma mulher ter características masculinas, mas não é normal um homem ter características femininas? Será que é por que na nossa sociedade patriarcal e machista ser mulher é degradante e considerado inferior? Atualmente, a pior ofensa que se pode fazer a um homem é chamá-lo de mulher.

Desfile de Vivienne Westwood em Milão.
Achei super sexy!
Juntar homem e feminilidade é considerado um insulto, uma ofensa à masculinidade do homem, enquanto mulheres expressando sua masculinidade, seja no emprego, nas roupas ou nas atitudes, é considerado aceitável. Quando uma mulher usa um terno, ela não é considerada lésbica ou insultada por sua escolha, mas quando um homem usa um vestido automaticamente ele é considerado homossexual e insultado e ofendido por sua escolha de roupa, ou seja, um aspecto puramente ligado à aparência externa.

Produtos considerados masculinos podem ser comprados e utilizados por mulheres. É o caso das propagandas de cerveja, da camisinha e de carros. 99% das propagandas relacionadas a estes produtos só conversam com o público masculino, porém boa parte do consumo dos mesmos também é de mulheres! Mas quando é o oposto, vemos produtos “femininos” sendo masculinizados ao extremo, para que o público masculino compre e uso o produto.  Pois Deus os livre de usar um produto que não tenha a palavra HOMEM escrita bem grande e que não tenha cores “machas” e características agressivas e poderosas.

Como exemplo brasileiros, temos:
- base de unhas: a risque, marca de esmaltes e produtos para unhas, já tinha uma grande linha de bases para unha, inclusive uma fosca. Mas para os homens comprarem o produto, ao invés da base fosca comum com detalhes em branco, rosa e desenho delicado, o produto foi reformulado, com a embalagem externa e interna com a palavra homem em letras grandes, detalhes em cinza, azul escuro e preto, cores de “macho”. Por que é claro que usar uma base fosca que tem um desenho de 1cm em rosa, vai torna-lo menos homem.

- sabonete: a protex lançou dois sabonetes para homens. Por que é claro que dentre 9 diferentes tipos de sabonete comum da marca, não havia nenhum que se adequava a pele masculina, que é TOTALMENTE diferente da feminina. Sarcasmo much? Novamente vemos os produtos para o público geral, com tons de branco e cores pastéis e nomes como: suave, limpeza profunda, aveia, etc. Já o produto masculinizado, vem novamente com a frase for men (para homens), em letras grandes, cores escuras e “masculinas” como azul e verde, e tem nomes como sport (esportes) e energy (energia).

Nos EUA, os exemplos desse tipo de produto são ainda mais ridículos. Tem sopa, cereal matinal, ferro de passar roupa, refrigerante diet, velas, entre outros, todos reformulados para apelar de forma estereotipada o publico masculino.

Esses estereótipos também atingem o público feminino, afinal quem não se lembra da a revolta contra a caneta Bic for Her? Adorei e recomendo o vídeo da Ellen Degeneres sobre o assunto: 
                                         
               
É bom lembrar, que essa separação de gêneros, provém de fatores psicológicos introduzidos pela cultura presente em nossa sociedade, e NÃO por fatores biológicos. Conforme o livro “Tábula rasa - negação contemporânea da natureza humana.” de Pinker, S. Companhia das Letras:
“Homens e mulheres possuem todos os mesmo genes, com exceção de um punhado no cromossomo Y, e seus cérebros são tão semelhantes que é preciso um neuro-anatomista com olho de águia para encontrar as pequenas diferenças entre eles. Seus níveis médios de inteligência são iguais, segundo as melhores estimativas psicométricas, e eles usam a linguagem e pensam sobre o mundo físico e vivo da mesma maneira geral. Sentem as mesmas emoções básicas e ambos gostam de sexo, buscam parceiros conjugais inteligentes e gentis, sentem ciúme, fazem sacrifícios pelos filhos, competem por status e parceiros sexuais e às vezes cometem agressão ao se empenhar por seus interesses”.


Ou seja, homens e mulheres são biologicamente diferentes sim, mas essa diferença é ínfima e não justifica o enquadramento e estereótipos presentes hoje.

Ser homem ou ser mulher não é mensurável! Não existe medidor de masculinidade ou medidor de feminilidade! A sociedade atual tenta encaixar em suas “formas” o que é masculino e o que é feminino, e quando algo não se encaixa com seus pré-conceitos é automaticamente rechaçado. Felizmente, somos dotados de uma incrível inteligência, e podemos desconstruir essas medidas e aceitar que, somos todos diferentes, e que nessas diferenças é onde jaz a beleza do ser humano.