domingo, 23 de dezembro de 2012

Protejam nossas crianças!

Natal chegando. É um momento, independente das crenças individuais, onde somos levados a refletir. É uma época do ano em que o amor, a harmonia e a paz deveriam imperar em todos os lares e famílias. Mas o que vemos é justamente ao contrário. Pessoas caminhando loucamente pelos shoppings e centros comerciais em busca de presentes que não têm o menor significado, mas que se sentem na obrigação de comprar. O nível de estresse e de nervosismo parece que aumentam a proporção que o espirito natalino se aproxima. 

É quando melhor podemos enxergar a falta de compaixão e empatia das pessoas. No frenesi de comprar mais e mais presentes, consegui compreender a proporção da violência que vivenciamos atualmente. Em todos os lugares que estive na última semana, presenciei cenas grotescas, onde era possível ver o lado mais triste do ser humano, onde foi possível ver a que ponto a humanidade chegou. Mas as cenas que mais me marcaram, foram a de pais e mães agredindo seus filhos verbalmente e fisicamente.

Como eu posso exigir e lutar para que a sociedade tenha mais empatia por grupos socialmente oprimidos, se a grande maioria das mães e pais não demonstram empatia nem sequer por seus próprios filhos? 

Sempre fui contra a educação através da violência, principalmente contra as crianças. Os pais parece que pensam que, por que aquela vida preciosa e desprotegida é de responsabilidade deles, então podem fazer o que quiser com elas. Atualmente, não ensinamos as crianças a respeitarem a si mesmas e aos próximos. Ensinamos a ter medo e a mentir, ensinamos que quando não conseguimos algo de alguém (no caso das crianças, a obediência) podemos conseguir aquilo que queremos à base do grito, à base da agressão verbal e física.

No mercado está semana dois pais gritavam com o filho, que deveria ter 8 ou 9 anos, de que se ele não se comportasse, eles iriam largá-lo dentro do carro enquanto faziam as compras. Conheço um casal que, para o filho não mexer nas coisas (que é o principal instinto da criança nesta fase, o de explorar e compreender o mundo através do tato) ou não entrar em locais indesejados por eles, falam para o pequeno, de apenas 3 anos, que "o homem" vai pegá-lo caso desobedeça. Cansei de ver nas ruas da cidade, cenas de mães e pais dando beliscões em seus filhos para que se "comportem" ou avisando, em tom ameaçador, que quando a criança chegar em casa vai levar "cintadas" ou "chineladas" devido a desobediência. 


Quando vejo essas cenas, me sinto horrível! Um sentimento de culpa e de tristeza me domina, tenho vontade de chorar, gritar, de tentar proteger essa criança de alguma forma, mas a impotência, o medo e a covardia me dominam nessa hora. E depois, ao refletir, me pergunto, até quando veremos um ser indefeso e desprotegido, sendo humilhado e agredido, por àqueles que deveriam ser seus maiores protetores, e não iremos fazer nada?

Primeiro um tapinha na mão, para a criança não repetir o erro. Mas a criança não entende o seu erro, crianças têm uma visão do mundo muito diferente dos adultos, e enquanto pequenos, principalmente até os 3 ou 4 anos, NÃO CONSEGUEM obedecer, seus instintos de querer e desejar algo, são muito mais fortes e aguçados, do que seu auto controle. Então a criança repete o ato errado, e dessa vez leva um beliscão. E ela repete novamente, pois ela não compreende, É APENAS UMA CRIANÇA, ainda está desenvolvendo seu auto controle, seus pensamentos e seus sentimentos. Mas os pais vêem aquilo como um desafio, como um jogo de poder, afinal eles já não avisaram DUAS VEZES que é errado? A criança já deveria ter aprendido né? Então eles têm que mostrar quem é o mais forte, quem está no comando e no poder ali. 


E assim, os tapinhas passam a surras, e as surras passam a espancamentos, e assim está o mundo e o Brasil. Acidentes e agressões são a primeira causa de morte de crianças de 1 a 6 anos de idade no Brasil, segundo a Unicef. Entre 2011 e 2012, aumentou em 84% a violência contra as crianças. Dados esses que mostram um desacordo com o dito popular de que "o mundo está tão violento, por que as crianças não apanham mais". Ao contrário do senso comum, o aumento da violência, acompanha o aumento das violências cometidas contra as crianças e adolescentes.


É tão óbvio, que não sei como há aqueles que se recusam a admitir. A pior forma de se educar uma criança, é aquela em que se faz o uso da violência  seja ela verbal ou física. VIOLÊNCIA SÓ GERA MAIS VIOLÊNCIA. A educação de crianças baseadas em amor, compreensão e diálogo geram cidadãos capazes de amar e respeitar ao próximo e capazes de ter empatia e compaixão.

Por isso, nessa época do ano, em que a reflexão e o desejo de fazer o bem tomam conta de nós, se realmente queremos acabar com a violência, a intolerância, o preconceito e o machismo, a solução está na educação que damos agora as nossas crianças. Sei que é clichê, mas elas são realmente a única esperança que temos de um futuro melhor. 

Por isso, neste natal e começo de um novo ano, faço um apelo a todos. Vamos cuidar das nossas crianças com mais amor, com mais empatia e mais respeito. Se você não tem filhos, passe está mensagem àqueles amigos e familiares que os têm. E se você se deparar com alguém que é totalmente à favor da agressão contra crianças, da "palmada educativa", junte-se de argumentos poderosos, textos de psicólogos e estudos e artigos sobre as consequências desastrosas da violência contra os pequenos e tente convencer esta pessoa do contrário. 

Sei que é muitas vezes exaustivo e desgastante tentar mostrar a alguém que suas atitudes e opiniões estão enganadas, e que haverá sempre alguém há quem você não conseguirá se fazer entender. Mas ao menos tente. Pois se ninguém tentar, se aos poucos não formos tentando fazer a diferença, continuaremos neste mar de conformismo e seremos coniventes com à violência cometida contra as crianças. Se você conseguir plantar a sementinha e fazer essa pessoa pelo menos refletir sobre suas atitudes, já será um passo dado em direção a mudança. Uma ação com essa pode não fazer uma grande diferença na sua vida, mas se fizer diferença na vida de pelo menos uma criança, tudo terá valido a pena. E com certeza, esse será o melhor presente de natal que esta criança receberá em toda sua vida.