quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Basta!


A sociedade se acha no direito de nos ditar um monte de coisas, como nos vestir, o que fazer com nossos cabelos, o que comer, com que namorar, com quem transar, enfim tudo na nossa vida é minuciosamente avaliado, julgado e pré-determinado de acordo com as vontades de todo mundo, menos a nossa.

Olhe para si mesmo e se pergunte:
- quantas vez você já chamou de vadia (ou algo do tipo) alguma mulher na rua por estar usando uma roupa curta ou sexy?
- quantas vezes você já disse que só "merece respeito quem se dá ao respeito", como se você fosse um ser muito superior que pode determinar quem merece ou não o seu precioso "respeito"?
- quantas vezes você já viu um caso de estupro na tv, e questionou que roupa ela estava usando, ou o que ela estava fazendo a essa hora da noite na rua?
- quantas vezes você já falou para suas filhas, netas, sobrinhas, amigas, que elas não podem usar roupa curta, ou decotada, ou muita maquiagem, por que serão consideradas vadias?

Nós mulheres sofremos diariamente com o abuso, com o sexismo e com o machismo, inclusive de nós mesmas!

Só quem é mulher para entender o quanto é assustador e humilhante caminhar até o ponto de ônibus, e ter que ficar ouvindo nojeiras absurdas, as famosas "cantadas". 
Só quem é mulher para entender o quanto é doloroso, vergonhoso e traumatizante passar por uma situação de abuso, como quando eu tinha 12 anos, e estava voltando da casa de uma amiga, e um homem de bicicleta passou por mim e agarrou meus seios, como se eu fosse uma coisa, um objeto.
Só quem é mulher para entender o quanto é revoltante e horrível, sua irmã caçula de 14 anos chegar em casa da escola de inglês e contar que um cara abaixou a calça e tentou estupra-la no meio de um estacionamento, e que ela só conseguiu fugir pois gritou por ajuda, e apareceu um guarda, e adivinha o que o cara fez, falou que ela estava mentindo e o guarda acreditou, pois o estuprador se disse "evangélico".
Só quem é mulher sabe a dor que se sente quando lemos ou vemos uma noticia de abuso sexual, de violência doméstica, de sexismo, de morte de mulheres causadas pelo machismo.

Temos sim que fazer algo, dar uma basta! 
Não tenham vergonha de dizer que são feministas, tenham paciência para divulgar o feminismo e, principalmente, se assumam feministas! 

Pois os machistas querem fazer com que tenhamos vergonha de lutar por direitos iguais pelas mulheres. 

Eu não aguento mais ver tanto sofrimento das minorias, é negro sendo chamado de macaco por pseudo-humorista famosinho, é casal de namoradas morrendo a facadas pelo vizinho e o mesmo continua "foragido", é a banda de pagode estuprando duas menores e 80% dos comentários criticando as vítimas e não os estupradores, é a minha funcionária que apanha diariamente do marido e que tem medo de denunciar pois sabe que ele vai pagar uma fiança de R$200,00 e ele vai sair da cadeia, e ela ainda vai ter que ouvir que ela é mentirosa, que ela merece e etc.

Lágrimas de dor, lágrimas de revolta, lágrimas de vergonha e uma só pergunta: até quando?

Nossa luta só está começando, eu sei disso, mas veremos a vitória. 

E sabe apenas o que queremos? Sermos respeitadas independente de nossas escolhas. Sermos tratadas como seres humanos! É pedir muito? 





2 comentários:

  1. Conheci seu blog agora e já digo que ganhou uma seguidora.
    Me identifiquei muito com o que disse, principalmente as perguntas no início do post. Cresci numa família muito conservadora,muito fechada e muito,muito machista e por muito tempo fiz, sim, coisas como chamar de vadia quem usa roupa curta, chamar de vadia a ex do namorado (preciso melhorar isso ainda), basicamente quem não era minha amiga era vadia. Já falei várias vezes sobre "se dar ao respeito" ou, quando acontecia algo como a mulher ficar bêbada e ser abusada, dizer que ela "estava procurando/pedindo". Ainda assim, eu considerava que tinha mente aberta, já que era a favor da legalização do aborto, e odiava o machismo que eu vivia. Talvez aí tivesse uma sementinha boa.
    Até que eu saí do ninho, até que a chamada de vadia fui eu, até que a abusada fui eu, até que eu perceber que a minha avó era infeliz por causa do machismo do meu avô, enfim. Gostei da sua abordagem, da sua sinceridade. Poste sempre.

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    1. Obrigada pelo comentário. Infelizmente muitas de nós mulheres passamos por essa fase, e muitas ainda estão nessa fase. Toda a cultura patriarcal nos leva a acreditar que o que a mulher faz ou deixa de fazer com o corpo dela é o ponto central de quem esta mulher é. E não é. Por isso acho importante tentarmos expor esta realidade as mulheres, principalmente àquelas ao nosso redor, elas podem não ouvir agora ou discordar, mas a sementinha já estará plantada ;)

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